Como reza a tradição, Roberto Carlos vestiu um terno branco, chamou bons amigos, lotou a plateia de convidados estrelados e gravou, na noite de terça-feira (9), seu especial de fim de ano para a Globo. "Que prazer rever vocês", disse, antes de começar "Emoções". Tudo ia bem, até que o rei começou a remar contra a maré. O show que o público vai assistir em casa dia 23 de dezembro pode causar certa estranheza. Isso porque Roberto apresentou um repertório que faz parte da sua turnê internacional de 2014. Entre as canções escolhidas, mesclou sucessos pouco tocados e deixou de escanteio queridinhos como "Detalhes", "O Calhambeque", entre outros.

O resultado foi um show bem morno no que diz respeito ao feedback da plateia. Não rolou aquele momento mãozinhas para o alto, com todo mundo cantando junto, se emocionando com as palavras que a gente conhece de cor e salteado. Além disso, o próprio Roberto não parecia estar no seu melhor dia. Fez mais intervalos que o normal para tomar uma água, e projetou pouco a voz nos momentos de conversa com os convidados (ou era problema de áudio da casa mesmo).

Os dois pontos já muito esperados (e que salvaram o show) foram, em primeiro lugar, a participação de Alexandre Nero, nosso Comendador José Alfredo, de "Império", que cantou com o rei "Mulher de 40". "Fiquei preocupado de você vir de preto", disse Roberto ao chamar o ator e cantor ao palco. Nero retrucou com humor: "Eu tirei o preto por você, Roberto. Por você eu tiro tudo". A canção escolhida, escondida a sete chaves até o último momento, levantou a bola do romance entre o Comendador e Maria Ísis, personagem de Marina Ruy Barbosa, que estava sentada na primeira fila.

"Você já pegou muita mulher nova, Roberto?", perguntou, antes de continuar: "Vocês cortam qualquer coisa, né? Não era para ter falado isso, né?", disse o ator para a direção do show, arrancando risadas de Roberto e dos amigos presentes. "Pois é... Mas já sim (risos). Essa música não saiu do nada, saiu de uma inspiração, coisa de amor. Que é o que rola entre o Comendador e menina Ísis. Logicamente não tenho preconceito (por romances de idades distintas). Não pode existir preconceito, até porque eu, com minha experiência, conheço mulheres de 18 anos e meninos de 50. Importante não é idade", decretou o rei.

O segundo momento mais esperado foi a participação de Sophie Charlotte (apresentada como Sophie Carlotte por Roberto, que logo corrigiu a falha assim que a atriz entrou no palco). "Outro dia, eu recebi uma cartinha manuscrita. Coisa rara por esses dias, né? E a carta era um pedido de autorização para cantar uma canção minha em uma novela. Eu fiquei tão impressionado com o fato de ser manuscrito que peguei telefone e liguei para essa menina. Eu quase nunca ligo, é mais a minha secretária. Mas liguei e disse 'está autorizado. Para mim é uma honra, uma alegria você cantar essa música'", disse sobre a atriz.

Sophie, com um vestido longo, branco, decotado e deslumbrante, exibiu a voz aveludada em "Sua Estupidez", o mesmo título que apresentou no primeiro capítulo de "O Rebu". Nas primeiras fileiras, o namorado da jovem, Daniel de Oliveira, aplaudiu seu desempenho (lindo, diga-se de passagem). Completando as participações especiais, Luan Santana cantou "Lobo Mau" com Roberto, e depois tomou sozinho o palco com seu hit "Tudo que você quiser". Alcione também soltou o poderoso vozeirão com "The Way you Look Tonight" e "Desahogo".

O show viajou pela carreira de Roberto por países como Estados Unidos, México, Itália, Argentina e Portugal. Quando chegou em Israel, Glória Maria, que dançou com o cantor em 2011 em Jerusalém ao som de "Unforgettable", entrou no palco para concluir a valsa. A noite foi encerrada (daí não se pode fugir da tradição) com "Jesus Cristo" e uma chuva de rosas vermelhas devidamente abençoadas, digo, beijadas pelo cantor. Desta vez, faltou emoção, Rei.