NOTÍCIA | Entrevista

Juarense Marco Aurélio Marrafon fala da expectativa para o próximo governo.

"Me sinto parte de uma equipe que nasceu para ganhar”

Por: DOUGLAS TRIELLI Midianews
Publicado em 15 de Dezembro de 2014 , 08h41 - Atualizado 15 de Dezembro de 2014 as 08h41


Amigo de trabalho de longa data do governador eleito Pedro Taques (PDT), o advogado juarense, Marco Aurélio Marrafon, foi um dos primeiros nomes anunciados para compor o primeiro escalão da próxima gestão estadual.

 

Com a missão de comandar a Secretaria de Planejamento, Marrafon afirmou que uma das principais tarefas será interligar todas as pastas da futura gestão.

 

Segundo ele, o isolamento das secretarias foi um dos erros da gestão do governador Silval Barbosa (PMDB), irregularidade constatada pela equipe de transição governamental.

 

“Eu não tenho uma visão positiva sobre a atual situação. Nós vimos que as secretarias se tornaram ilhas, não dialogam entre si. Essa foi uma percepção praticamente unânime da equipe de transição”, disse Marrafon, em longa entrevista exclusiva ao MidiaNews.

 

De acordo com o futuro secretário, a partir do dia 1º de janeiro de 2015, começa a valer um pacto de 100 dias entre os secretários. Todos terão metas a cumprir e resultados a alcançar.

 

Depois, o pacto será refeito para os próximos seis meses e, em seguida, para 2016.

 

Sua pasta será a responsável por auxiliar os secretários e ainda entregar os relatórios de resultados ao governador.

 

“Nossa nomeação foi livre e, portanto, essa mesma liberdade que o Taques teve em nos escolher terá em exigir que cada um cumpra seu dever”, afirmou.

 

No entanto, Marco Aurélio Marrafon se disse “confiante” no bom desempenho da equipe escolhida para compor o staff de Taques.

 

“Me sinto parte de uma equipe que nasceu para ganhar. Fico orgulhoso de participar de uma equipe desse nível. Se você pegar nominalmente a qualificação de cada um, vai ver que, parafraseando o Lula, nunca antes na história de Mato Grosso montaram um time tão preparado”, disse.

 

Confira a seguir os principais trechos da entrevista com o futuro secretário de Planejamento, Marco Marrafon:

 

"Aceitei participar porque acredito no Plano de Governo desenhado e acredito na figura do governador. E essa confiança no trabalho dele é que foi determinante" MidiaNews - Como foi esse processo de escolha para deixar sua carreira e aceitar a missão dada pelo governador Pedro Taques? Foi um processo difícil?

 

Marco Marrafon - Foi um processo bastante reflexivo. Aceitei participar porque acredito no plano de governo desenhado e acredito na figura do governador. E essa confiança no trabalho dele é que foi determinante. Porque, na realidade, minha carreira está estruturada. Meu escritório atua em Brasília, Curitiba e Rio de Janeiro. Sou professor concursado do Rio de janeiro. E vir para cá, de vez, demanda mudanças na sua vida, na vida da sua família, tem que trazer a família para Cuiabá, o que não é um processo simples. Mas pensei que com planejamento seria possível encarar essa missão. E o grupo é novo, está com muita vontade de trabalhar, tenho amigos da época do colégio. Então, o carinho pela terra e a confiança no projeto me levaram a tentar isso. Por isso decidi aceitar o desafio.

 

MidiaNews - O fato de o senhor não ter experiência na política pode trazer algum tipo de empecilho ao seu trabalho?

 

Marco Marrafon - Neste momento, acredito que não. Até porque temos uma orientação do Taques de focar no trabalho mais técnico, as grandes decisões políticas ficarão nas mãos dele. Cabe a nós pensar tecnicamente a gestão pública, estabelecer um mapeamento estratégico do Estado, para definir o plano de ação. Esse mapeamento estratégico deve ser baseado no programa de governo escolhido pela população. E é importante que a gente preste contas desse plano de governo. E ai a secretaria de planejamento vai fornecer cenários de atuação e possibilidades de atuação. Mas as grandes escolhas políticas vão ficar nas mãos do Pedro Taques.

 

MidiaNews - Mas é inegável que um secretário desgastado, às vezes até por adversários do Governo, pode atingir o governador. O senhor teme passar por um processo semelhante?

 

Marco Marrafon - Não, de maneira alguma. Porque o modelo de gestão que queremos colocar é novo, que vai aliar as melhores práticas de Pernambuco, de Minas Gerais, de São Paulo. Pretendemos estabelecer um modelo de gestão baseado em um plano de governo. Então, mesmo as disputas orçamentárias e a liberação de verbas devem estar de acordo com o planejamento estratégico que o Taques vai ser o fiador. A partir dessa ideia de plano e organização, pretendemos estabelecer critérios objetivos de realizações de políticas e de orçamento. Isso ficaria um pouco fora da briga política, porque não será uma discricionariedade excessiva para dizer que dou o dinheiro para um e não para outro. As liberações ocorrerão de acordo com o plano de ações. Esse plano não se restringe ao primeiro ano, é um plano de quatro anos. É um projeto que se começa agora. Em Minas, um dos nossos exemplos, começou com choque de gestão, diminuição da máquina pública, ajustamento, governo para resultados e a última etapa era Estado para Governança. A diferença é que isso lá demorou 12 anos e nós não temos esse tempo, mas temos possibilidade de aprender com a experiência deles. Nossa experiência é nova, mas está baseada em políticas públicas que deram certo. E sendo assim, imagino que vamos ter uma segurança maior para agir tecnicamente e fugir de disputas políticas menores.

 

MidiaNews - A composição da sua equipe será feita pelo senhor ou ficará a cargo de Taques?

 

Marco Marrafon - Uma das grandes questões que temos trabalhado é que não dá para haver feudos em secretarias ou entregar uma secretaria de porteira fechada. Isso não vai ocorrer neste governo. O secretário não vai ser um feudo, isolado do resto da estrutura. A nossa política é de integração e diálogo, e teremos sempre diálogo. Os secretários serão ouvidos, os servidores também. Então, o processo de definição da equipe nos diferentes escalões vai ocorrer de maneira dialogada e integrada. Não só governador, secretaria e servidores, mas também entre as secretarias. O modo de pensar vai ser diferente. O secretário, agora, vai atuar para defender um plano de governo. E esse grupo de pessoas vai lutar para fazer esse plano virar produtos para a população. Então, a escolha é integrada.

 

MidiaNews - O senhor tem uma ideia de como vai ser essa composição da sua equipe? Quantas pessoas são necessárias para tocar uma Secretaria de Planejamento?

 

Marco Marrafon - Temos estabelecidas algumas metas de cortes. Mas como ainda não foi oficialmente divulgado a reforma administrativa, temos apenas algumas estimativas, não o número final. No meu caso, tenho uma secretaria formada por muitos servidores, poucos dos chamados exclusivamente comissionados. Com isso, os cortes seriam menores. A secretaria de Planejamento passou por um processo importante de trazer servidores concursados para dentro. Não é a mesma realidade de outras secretarias. Nós estamos ainda definindo o mapa de estruturação administrativa para depois podermos dar um número seguro de como alcançar os resultados. Mas uma coisa que é muito importante é que o planejamento nos grandes modelos de gestão tem se mostrado um planejamento de integração com as demais secretarias. Então, isso também vai influenciar no número de servidores que vão estar à disposição. Enfim, estamos fazendo uma grande rede de integração com as secretarias.

 

MidiaNews - Como o senhor analisa os secretários anunciados até o momento pelo governador eleito?

"Se você pegar nominalmente a qualificação de cada um, vai ver que, parafraseando o Lula, nunca antes na história de Mato Grosso montaram um time tão preparado"

Marco Marrafon - Sempre que vejo uma composição com a qualidade dessa, fico muito feliz. Me sinto parte de uma equipe que nasceu para ganhar. Fico orgulhoso de participar de uma equipe desse nível. Se você pegar nominalmente a qualificação de cada um, vai ver que, parafraseando o Lula, nunca antes na história de Mato Grosso montaram um time tão preparado.

 

MidiaNews - Até o momento, o Taques nomeou apenas dois secretários ligados a algum partido político. O senhor acredita que ele vai conseguir manter esse ritmo ou a pressão interna será maior para nomear pessoas ligadas aos 13 partidos da base?

 

Marco Marrafon - Acredito que estamos em um processo de mudança da política. Sempre disse que não podemos ter medo da política. Todos nós, no dia a dia, fazemos política. Os partidos políticos são importantes, porque são veículos de canalização dos anseios sociais e dos setores. Lógico, existem algumas deturpações nesse processo, tanto que a democracia representativa, hoje, demonstra sinais de crise. Mas isso não significa que não sejam de suma importância. Não podemos temer, temos que lutar para que sejam aperfeiçoados. Então, as pressões para participação maior dentro do Governo é natural, e cabe uma conciliação de critérios estabelecer para a governabilidade. Acredito que é do diálogo que vai nascer uma boa composição e não acho que devemos temer a política.

 

MidiaNews - Qual vai ser a linha de atuação da Seplan e qual a prioridade da pasta nos primeiros 100 dias?

 

Marco Marrafon - O governador estabeleceu algumas diretrizes, que vamos seguir de maneira focada. A grande ideia, a partir de janeiro, é fazer a integração social do plano de governo com a população. Com isso, estamos organizando, junto com a agenda do governador, uma série de seminários regionais e audiências públicas regionais para prestar contas à sociedade. E vamos ouvir o que a população entende como a melhor forma de realizar esse plano de governo. É preciso deixar claro, a Gestão e o Planejamento são importantes para o sucesso do governo, mas eles de nada servem se não for para cuidar das pessoas. Você planeja e faz uma boa gestão como atividade meio para finalidade maior. Essa pessoa na ponta do processo, que está em diferentes municípios tem que ser ouvida, para tomar parte e ajudar a construir o projeto. Essa etapa precede um grande produto que a secretaria de planejamento tem que entregar ao governador, que é mapeamento estratégico da gestão. A partir desse mapeamento, vamos estabelecer um plano de ações. Já rumando para fevereiro, vamos dar início ao chamado Plano Plurianual (PPA) 2016-2019, fazendo uma integração com o mapeamento para servir de subsídios para elaboração de Leis de Diretrizes Orçamentária e Lei Orçamentária Anual, para 2016. Esses são os macros objetivos da secretaria.

Mas, além disso, temos dentro da secretaria aquilo que ficou famoso em Minas Gerais e que foi chamado de Contrato de Gestão, que seria um acordo de resultados. Desde a posse vamos ter uma série de metas a serem cumpridas e vamos oferecer subsídios para que o governador possa controlar essas metas de cada secretário. Nesse primeiro momento serão mais metas de esforço, porque nos

Tony Ribeiro/MidiaNews

 

"A grande ideia, a partir de janeiro, é fazer a integração social do Plano de Governo com a população" primeiros 100 dias muitas das medidas devem gerar resultado em um prazo posterior. A ideia é que os acordos de resultados estejam todos celebrados para a posse, ou seja, os secretários vão ser nomeados já sabendo o que devem fazer nos primeiros 100 dias. Depois, vamos fazer a avaliação de controle, entregando os resultados para o governador e, em seguida, fazer uma repactuação para os próximos seis meses e depois uma repactuação para 2016. Então, a secretaria de Planejamento vai ter essa tarefa de levantar todos os subsídios para que de um lado auxilie os secretários a cumprirem suas metas e, ao mesmo tempo, buscar os dados de avaliação e monitoramento para apreciação.

 

MidiaNews - Então, a Secretaria de Planejamento vai ser essencial para o andamento das outras secretarias.

 

Marco Marrafon - Diria que há um conjunto de medidas essenciais, não só o Planejamento. Prefiro dizer que o Planejamento vai contribuir para que o governador tenha a diretriz de onde nós queremos chegar e o que queremos entregar para a população. Também vai contribuir, junto com a Secretaria de Administração, a desburocratizar e tornar mais simples e transparente os processos internos. Vamos ser um auxiliar de cada secretário, fornecendo dados, dando apoio, para que todos em conjunto consigam cumprir suas metas.

 

MidiaNews - Muito se tem comentado sobre uma possível situação caótica no Governo. O que foi constatado pela equipe de transição, de um modo geral?

 

Marco Marrafon - Eu não tenho uma visão positiva sobre a atual situação. Nós vimos que as secretarias se tornaram ilhas, não dialogam entre si; os procedimentos são lentos e burocráticos; dificuldade de entregar produtos para a população, a gente não vê onde está sendo gasto o dinheiro arrecadado. O Estado está com dificuldade de ser eficiente e se basear na economicidade. Além das questões fiscais, o que verificamos no dia-a-dia foi dificuldade de levantamento de dados, ausência de informação, ausência de transparência na publicidade desses dados. Então, nesse sentido, não dá para fazer um diagnóstico positivo, ele é bastante negativo.

 

MidiaNews - Essas secretarias em ilhas foi um dos erros do governador Silval Barbosa? De que forma vocês pretendem mudar isso?

 

Marco Marrafon - Foi, e isso atrapalhou muito o Estado. As políticas públicas não devem ser pensadas em um único órgão, elas devem ser integradas e a estrutura é feita para que seja integrada. Quando você tem cada um cuidando do seu interesse, o interesse do Estado pode ficar para trás. O resultado disso é uma perda de eficiência geral. Nós vamos mudar isso fazendo um planejamento que é construído com todos, para que se tenha economicidade dos processos internos, um Estado que ande com um rumo e que tenha uma diretriz forte, que saiba aonde quer chegar e saiba o que quer entregar para a população, que saiba como cuidar das pessoas. E isso não dá para fazer com secretarias isoladas e cada um cuidando da sua área, sem dialogar.

 

Basta pensar um exemplo clássico: Sistema prisional, Educação e Esporte. Você não tem como fazer a reintegração social de um menor infrator, sem você dialogar com a secretaria de educação e eventualmente com a secretaria de Esportes. Então, as políticas, hoje, são transversais. E não dá para pensar o Estado como arquipélagos, tem que pensar como um grande projeto integrado em que todos colaborem e contribuam para um bom resultado final. E mais do que isso, é preciso saber para onde você vai e o que quer fazer.

 

 "As secretarias se tornaram ilhas, não dialogam entre si; os procedimentos são lentos e burocráticos; e a gente não vê onde está sendo gasto o dinheiro arrecadado" MidiaNews - Ao que o senhor atribui o fato de essas secretarias estarem tão isoladas? Foi uma escolha política?

 

Marco Marrafon - Eu não vivenciei a construção política e os objetivos do governo que agora se encerra, não acompanhei o plano de governo e não sei o compromisso de cumprir as metas colocadas. Mas consigo dizer que nessa transição, foi uma percepção praticamente unânime de que ocorreu isso, mas as razões de fundo não sei. O que posso dizer com relação a minha secretaria é que a equipe é bem capacitada, e buscou fazer a sua parte. O que não houve, talvez, foi uma vontade política de fazer com que as diretrizes chegassem aos diferentes órgãos e secretarias.

 

MidiaNews - Então, o senhor acha que não houve vontade política de mudar a atual situação?

 

Marco Marrafon - Não posso afirmar que não houve, mas o que percebi é que não foi um objetivo buscado a todo o momento. E isso acabou deixando a Seplan muito isolada.

 

MidiaNews - O senhor esteve desde o começo na equipe de transição.. Nesse período, o que foi possível constatar na Seplan?

 

Marco Marrafon - É uma secretaria com servidores muito bem preparados, mas que não conseguiu exercer papel de integração com as demais secretarias. Acabou ficando muito isolada. Internamente, está bem estruturada, mas externamente não conseguiu desempenhar adequadamente suas funções.

 

MidiaNews - E, de forma geral, o que há de crítico?

 

Marco Marrafon - O que mais me chamou atenção foi a dificuldade e a burocratização para entregar os produtos a população. Não estão bem claras as prioridades de gastos. Gastos que poderiam ser mais focados no bem-estar da população são perdidos com atividades meio, às vezes com compras desnecessárias. Me chamou muita atenção a ausência de planejamento e a não priorização dos processos que levariam a concretização de políticas públicas. Eu diria que a todo o momento isso aparece em diversas secretarias.

 

MidiaNews - O diagnóstico conseguiu achar algo irregular que indique corrupção na atual gestão?

 

Marco Marrafon - Ainda é um pouco prematuro falar, porque ainda estamos fechando o processo e não podemos fazer acusações de maneira leviana. Mas, certamente, houve alguns momentos em que ficamos com, no mínimo, suspeitas.

 

MidiaNews - O senhor pode dar um exemplo?

 

Marco Marrafon - Ainda é muito prematuro, prefiro não falar.

 

MidiaNews - O senhor falou em falta de transparência nesse processo...

 

Marco Marrafon - Sim, e isso foi bem marcante. Basta pensar que ainda não conseguimos cumprir as determinações da Lei de Acesso a Informação. Precisa melhorar muito essa transparência, já tem um site, mas ainda precisa melhorar muito, se não pode até correr risco de descumprir a lei. Esse seria um caso de violação da lei. E a transparência é muito importante, porque permite o controle da "O Estado está com dificuldade de ser eficiente e se basear na economicidade. E, nesse sentido, não dá para fazer um diagnóstico positivo, o que temos é bastante negativo" população, e quanto maior o controle, maior a transparência e mais se exige desempenho do gestor. E nesse sentido, a população vai saber o que cada um de nós deveria estar fazendo, vai poder cobrar que se cumpram as metas. E a divulgação do desenrolar dos processos serve como um grande bloqueio contra eventual corrupção. A transparência a luz do sol é um grande detergente.

 

MidiaNews - Em que setor houve maior dificuldade em encontrar essa transparência?

 

Marco Marrafon - Tivemos mais dificuldades nos órgãos descentralizados. Os dados vinham, mas de maneira fragmentada e tínhamos que fazer um trabalho muito grande para ter alguma consistência.

 

MidiaNews - O senhor acha que isso foi proposital?

 

Marco Marrafon - Não sei dizer. Não sei dizer se foi proposital, só falta de organização ou falta de vontade.

 

MidiaNews - E de que forma vocês pretendem trazer essa transparência do que é feito no Governo?

 

Marco Marrafon - A todo tempo na transição, estamos buscando tornar público isso. Vamos apresentar o diagnóstico da transição antes da posse do governador. E a partir daí, aquilo que não se mostrar compatível com a realidade, vamos buscar aprimorar. O secretário de Comunicação, Jean Campos, já está incumbido da tarefa de buscar a implementação de um Portal de Transparência mais amplo e mais bem estruturado. E recentemente ele teve uma conversa com o pessoal do Tribunal de Contas da União, que é um modelo de portal de transparência para todo o Brasil, e possivelmente alguns técnicos venham para cá para ajudar a implantar um sistema semelhante em Mato Grosso.

 

MidiaNews - E quanto ao Portal de Transparência, que já existe?

 

Marco Marrafon - É muito insuficiente, não cumpre todos os requisitos legais. Porque, por exemplo, você pode jogar a informação bruta ou pode jogar a informação trabalhada. A gente até consegue acesso à remuneração dos cargos, mas não consegue todo o vencimento efetivo da pessoa ao final. Ou ainda a divulgação de organogramas, de quem faz o que no Governo, de qual a função da pessoa, se está cumprindo bem o seu papel. Há vários exemplos em que precisaria ter um processo mais claro de transparência.

 

MidiaNews - Mas essa falta de transparência é histórica.

 

Marco Marrafon - Eu diria que é muito cultural e não só em Mato Grosso. O movimento de renovação vem materializado na Lei de Acesso a Informação que já existe há alguns anos e ainda não é cumprida. Precisamos pensar que isso demanda uma nova cultura.

 

MidiaNews - Existe, hoje, certa crítica a funcionários públicos. Como o senhor enxerga esse cenário e como levantar a autoestima e vontade de trabalhar desses funcionários?

 

Marco Marrafon - Não posso negar que, principalmente em alguns setores e repartições, se nota uma cultura defasada com o compromisso do serviço público. Quando você tem governantes que não tem comprometimento, metas que não são exigidas, sistema de compadrio na indicação dos cargos, clientelismo ou apropriação do patrimônio público, você não incentiva os servidores. Isso forma uma

Tony Ribeiro/MidiaNews

 

"O que mais me chamou atenção foram a dificuldade e a burocratização para entregar os produtos à população" rede negativa que atrapalha o funcionamento do serviço. Para mudar isso é preciso buscar no servidor aquilo que ele tem de melhor, buscar as potencialidades, estabelecer metas de incentivo e estamos pensando em uma política para resultados inédita no Estado, que é premiar as secretarias com melhor desempenho, dando mais verba, liberando mais recursos. A estabilidade é algo necessário para evitar o absolutismo de quem está no poder. Eles são servidores do Estado e não do governo e tê-los é a garantia de continuidade dos serviços e de manutenção da máquina pública. Mas estabilidade não pode ser confundida com ausência de eficiência. E a eficiência é um critério de demissão, está no artigo 37 da Constituição. Acho que o problema não está na estabilidade, mas na ausência de cobrança de metas. E para se evitar esses males é preciso ter um gestor que consiga despertar o interesse do servidor, consiga alertar que o papel dele é importante, que ele cumpre um papel social.

 

MidiaNews – E qual o número de comissionados e quantos serão demitidos?

 

Marco Marrafon - Temos os chamados exclusivamente comissionados e as chamadas funções comissionadas, que é a gratificação para o cargo de chefia que o servidor público assume. Neste contexto, os números variam um pouco, porque esses cargos vêm por meio de decretos e tem sempre decretos recentes, dificultando a atualização. Mas gira em torno de 7.400 comissionados. Sendo em torno de dois mil os exclusivamente comissionados. Os números são altos, a máquina pública federal tem em torno de 22 mil, estamos com 30% da máquina pública. Portanto, haverá uma redução bastante significativa, não só dos cargos, mas, também, nos custos do servidor comissionado. O que puder ser cortado sem que tenhamos prejuízos ao serviço público será cortado. E aí não é uma coisa pessoal, é questão de política de Estado. Porque ou fazemos isso ou o Estado de Mato Grosso vai violar a Lei de Responsabilidade Fiscal e, inclusive, já está apresentando sinais de esgotamento financeiro de arrecadação, esgotamento orçamentário. Então, ou faz isso, ou o Estado vai entrar em grave crise econômica.

 

MidiaNews - Esses cortes vão ficar a cargo da Secretaria de Planejamento?

 

Marco Marrafon - Vamos atuar em conjunto com outras secretarias. Não é a gente que vai decidir isso. A Fundação Dom Cabral veio nos ajudar nessa estrutura e quem vai bater o martelo e vai decidir a reforma administrativa e a reforma dos cargos será o governador Pedro Taques. E uma vez que ele determina, nós cumpriremos. E aí vamos atuar para estabelecer um novo modelo de rotinas burocráticas de acordo com essa nova estruturação.

 

MidiaNews - Acabar com a corrupção no Estado foi um dos motes de campanha do Pedro Taques. O senhor acha que isso é possível? De que forma?

 

Marco Marrafon - Creio que é possível determinar todas as políticas necessárias para acabar com a corrupção. E isso tem que ser feito urgente. Para fazer isso basta ter planejamento, determinação, uma diretriz de governo muito clara, estabelecimento de controle e avaliação de cada órgão em cada setor e transparência. Acho que tudo isso vai constranger qualquer pessoa que, por ventura, tenha algum anseio de fazer algo errado. A natureza humana é complicada, historicamente grandes pensadores já diziam isso. Mas temos que estabelecer todas as condições para que a corrupção não ocorra e que se ocorrer seja devidamente apurado e punido.

 

MidiaNews - O senhor acredita que Pedro Taques está preparado para esses cortes, mesmo que sejam de pessoas bem próximas a ele?

"Creio que é possível determinar todas as políticas necessárias para acabar com a corrupção. E isso tem que ser feito urgente"

Marco Marrafon - Certamente. O compromisso que ele exige de todos é muito claro: se não for para fazer o correto, com ele não vai ter vez. E isso é indiferente de amizade, partido político ou qualquer tipo de relação. Neste ponto ele é intocável e é o que chamamos de cláusula pétrea. Tenho certeza que se houver alguma questão comprovada ele não vai ter nenhum receio de fazer o corte necessário, e se for preciso cortar na própria carne, ele irá cortar. Porque ele foi eleito com um compromisso muito grande em combater a corrupção e isso ele não vai abrir mão.

 

MidiaNews - Qual vai ser o seu maior desafio enquanto secretário de Planejamento?

 

Marco Marrafon - Acho que meu maior desafio vai ser promover a integração das secretarias junto ao mapeamento estratégico. Porque é preciso manter esse diálogo, que faça esse processo construtivo desde o início. E isso vai ser muito interessante. É um desafio que se coloca para que a Seplan saia de si e alcance seu papel no Estado. Depois, tem a função de avaliar os andamentos das secretarias e teremos que estar sempre atentos para essa questão. E o próprio secretário de Planejamento está sujeito a um acordo de resultados que é celebrado com o governador. Então, se a Seplan não entregar resultados, também pode sofrer sanções. Nossa nomeação foi livre e, portanto, essa mesma liberdade que o Taques teve em nos escolher, terá em exigir que cada um cumpra seu dever.

"Acho que meu maior desafio vai ser promover a integração das secretarias junto ao mapeamento estratégico"

MidiaNews - Qual a importância de planejamento em setores críticos, como a Saúde e a Logística do Estado?

 

Marco Marrafon - Quando você tem na Saúde um planejamento, estabelecendo metas prioritárias, já orienta e já ajuda o secretário de Saúde a construir as decisões que sejam mais adequadas ao plano de governo estabelecido. Com isso, o Planejamento vai indicar onde há as maiores deficiências, vai trabalhar junto com o secretário para que elas sejam resolvidas. Então, deixando claro que o planejamento do governo não se confunda com a secretaria de Planejamento, diria que o planejamento é importante para balizar as diretrizes de todos. Na infraestrutura é uma coisa clara, porque você vai estabelecer eixos de desenvolvimento de acordo com o projeto de Estado que foi pensado.

 

MidiaNews - Para o senhor, quais são as principais demandas do Estado?

 

Marco Marrafon - Segurança pública, que está em estado de calamidade, a população precisa de políticas imediatas de repressão e prevenção ao crime; eficiência nos atendimentos dos hospitais e gestão de medicamentos; melhoria dos índices da educação, que tivemos uma queda aqui no último ano. E só aí temos três secretarias prioritárias que precisam de atenção estratégica e planejada para resolvermos esses grandes problemas. Mas não são somente essas, cada secretaria já vai estar, desde o início, comprometida com políticas imediatas.

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JUARA MATO GROSSO



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