Uma das empresas interessadas em operar a Loteria do Estado de Mato Grosso (Lemat), a italiana Lottomatica SPA, tem conexões com o bicheiro Carlos Augusto Ramos, o ´Carlinhos Cachoeira´, preso na Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, no ano passado.


O elo entre o contraventor goiano e a gigante do ramo das loterias é a empresa americana Gtech Corporation – cujas relações com Cachoeira foram detalhadas em 2005 pela CPI dos Bingos –, que foi comprada pelo grupo italiano em 2006.


A Gtech chegou a ser considerada uma das maiores operadoras de loterias do mundo, e no Brasil foi responsável pelo sistema informatizado das loterias da Caixa Econômica Federal, além de ter operado as loterias estaduais de Minas Gerais e Santa Catarina.


Conforme apurado na CPI dos Bingos, conduzida pelo Senado em 2005, Cachoeira mantinha negócios com a Gtech.


De acordo com o relatório da comissão, a Gtech teria pagado propina para renovar o contrato bilionário com a Caixa, em 2003.


Em depoimento à CPI, o ex-assessor da Casa Civil no Governo Lula, Waldomiro Diniz, afirmou que Cachoeira o procurou para que o ajudasse a fechar um acordo com a Gtech.


O então presidente da Gtech, Fernando Antônio de Castro Cardoso, confirmou em seu depoimento que a empresa fechou parcerias com Cachoeira, que, até então, era seu concorrente no mercado de jogos - o goiano era dono da empresa Combralog -, para exploração conjunta de loterias estaduais e prestação de serviços no ramo das videoloterias.


Após o escândalo do envolvimento com Cachoeira, a empresa americana foi vendida para a Lottomatica.


Interesse em MT


Em abril do ano passado, uma reportagem do jornal Diário de Cuiabá revelou o interesse de Cachoeira em assumir a loteria de Mato Grosso.


Em uma interceptação de e-mails trocados em 2010, que consta na Operação Monte Carlo, o cunhado do bicheiro, Adriano Aprígio de Souza, e o argentino Roberto Coppola, consultor de Cachoeira, comentaram a reeleição do governador Silval Barbosa (PMDB) em Mato Grosso e disseram que assumiriam a Lemat, que seria recriada no ano seguinte.

Na ocasião, Silval negou ter conhecimento do interesse de Cachoeira e mandou suspender a instalação da loteria, enquanto o Serviço de Inteligência da Secretaria de Segurança Pública (Sesp) investigaria a suspeita .


Após a ´quarentena´ motivada pelas denúncias, a licitação para instalar a loteria foi retomada neste ano. No dia 11 deste mês, foi feita uma consulta pública para receber sugestões de modelos de jogos e de operação da loteria, da qual a Lottomatica participou.



A empresa italiana apresentou, inclusive, uma projeção de arrecadação para a loteria em Mato Grosso – de acordo com a Lottomatica, no primeiro ano a loteria pode arrecadar entre R$ 35 e R$ 40 milhões, chegando a R$ 80 milhões no quinto ano de operação (leia mais AQUI).


Outro lado


O MidiaNews entrou em contato com a Sesp e a Polícia Civil para saber os resultados do inquérito sobre o interesse de Cachoeira na Lemat, mas a assessoria de imprensa informou não ter conhecimento de qualquer investigação sobre o caso.


A reportagem tentou contato com a Lottomatica SPA, por meio de seu consultor no Brasil, Paulo Heise, mas não obteve um posicionamento da empresa, até a edição desta matéria.


O presidente da Lemat, Manoel Antônio Garcia Palma, o ´Toco Palma´, afirmou que não sabia da conexão entre a Lottomatica e o bicheiro.


´Eu não estou sabendo dessa ligação com o Cachoeira. A consulta foi pública e a licitação será pública. Quatro empresas participaram da consulta, e não sabemos se todas participarão da licitação. E pediremos todas as certidões das empresas que entrarem na concorrência, conforme prevê a legislação´, disse Toco.


´Eu estou apenas fazendo o meu trabalho, que é realizar essa licitação. A Lemat será de extrema importância para o Estado, pois vai incrementar a arrecadação e o Governo poderá investir no social e no esporte´, completou.


Retomada da loteria


A Lemat foi criada pela Lei nº 363, de 28 de dezembro de 1953, ativada no Governo Júlio Campos (DEM), em 1983, e desativada três anos depois.


Em 2011, o governador Silval Barbosa reativou a loteria, por meio de decreto, com uma estrutura composta por um presidente, dois diretores e um assessor. Os planos, desde então, eram terceirizar a operação dos jogos.


A loteria em Mato Grosso foi regulamentada pela lei estadual nº 8.651/2007, que determina que ela deve destinar 3% da arrecadação para o Fundo de Assistência Social e 7% para o Fundo de Desenvolvimento Desportivo.


A comissão de licitação está avaliando a porcentagem a ser reservada para a premiação – no mínimo, 45%, de acordo com Toco Palma –, o quanto deve ficar com a concessionária e o quanto será destinado à manutenção da autarquia que, após a concessão, vai apenas fiscalizar o serviço.


A previsão é lançar o edital de licitação até o final de maio. Se não houver problemas, o resultado deve sair em 30 dias, e a empresa escolhida deve entrar em operação, 45 dias depois – desse modo, a Lemat deve começar a funcionar no segundo semestre deste ano.