O produtor rural Jorge Pires, candidato a vice-presidente da Famato (Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso), denunciou uma possível manobra eleitoral para beneficiar o atual presidente da entidade, Rui Prado, que tenta se reeleger.

Prado teve sua candidatura impugnada, por unanimidade, no último dia 12, pela comissão eleitoral, por estar tentando comandar a federação pela terceira vez consecutiva. "Se a tática se mostrar verdadeira, é um golpe baixo, escuso e imoral. A legitimidade do processo estará sob suspeita".

Um recurso contra a impugnação, interposto pelo presidente da comissão eleitoral, Luiz Alfeu Moojem Ramos, será votado amanhã (24). Segundo Pires, os presidentes de sindicatos rurais que fazem parte das duas chapas concordaram em não votar, por uma questão de ética. No entanto, segundo ele, estaria havendo uma "manobra", pois vários presidentes, integrantes da chapa de Rui Prado, para garantir o voto favorável à candidatura à reeleição, estão se licenciado, por 15 dias - justamente no período da decisão sobre a impugnação.

Desse modo, segundo ele, os vices assumem interinamente a presidência dos sindicatos e têm direito a voto - seguindo a orientação dos titulares. “É muita coincidência que vários presidentes estejam se licenciando exatamente no período em que será preciso decidir pela continuidade, ou não, do atual presidente na disputa. Se a tática se mostrar verdadeira, é um golpe baixo, escuso e imoral. A legitimidade do processo estará sob suspeita”, afirmou Jorge Pires.

O impacto dessa manobra é significativo, segundo o produtor, já que na chapa de Prado, dos 28 membros, 20 são presidentes di sindicatos. Na chapa em que Pires é candidato a vice, são dez. Licenças A reportagem entrou em contato telefônico com nove presidentes de sindicatos, ligados à chapa de Rui Prado. Cinco deles confirmaram que não votarão, por motivos variados, como licença médica ou viagem. São eles: Rogério Romanini (Barra do Bugres); Alex Noduyoshi Utida (Campo Novo dos Parecis); Eliezer Alves de Carvalho (Guiratinga); Paulo Cesar Delondi (Pedra Petra); Gilmar Dell'Osbel (Querência). Dois, George Diogo Basílio (Juína) e Alessandro Casado da Silva (São José dos Quatro Marcos), afirmaram que não falariam sobre o assunto e dois, Rui de Faria (Porto Estrela) e Jair Guariento (Primavera do Leste) disseram que votarão.

Imagem negativa Para Pires, a comprovação da manobra dos adversários trará "consequências negativas" para a imagem da Famato. “Condeno esse tipo de comportamento”.

Não seria prudente trazer para o seio da nossa entidade um processo rasteiro, principalmente sabendo que saiu de dentro da diretoria da Famato. Isso é uma coisa que repudiamos, porque esperamos estar tratando de um processo transparente e legal.

A Famato não pode se sujeitar a um jogo como esse”, criticou. Reprodução O presidente Rui Prado, que quer se reeleger na Famato Ainda assim, segundo Pires, a expectativa é que todos os presidentes compareçam e compreendam a necessidade de se ter um pleito com lisura. “É uma questão moral para os presidentes. Temos 56 que não participam de nenhuma chapa e confiamos no caráter e na independência de todos”, avaliou.

Impugnação

O atual presidente Rui Prado foi impugnado por estar pleiteando o cargo pela terceira vez consecutiva, fato proibido pelo estatuto da instituição. O pedido de impugnação foi feito pelo Sindicato Rural de Cuiabá que, segundo o advogado Armando Candia Biancardini, buscou o cumprimento da lei que rege as eleições da Famato. Ele ainda ressaltou que o atual presidente está no cargo, de forma ininterrupta, desde o mês de outubro de 2007. Por outro lado, a justificativa da chapa de Prado é que ele não foi eleito quando assumiu pela primeira vez e sim o atual deputado federal Homero Pereira (PSD), que renunciou quatro meses depois.

Para Jorge Pires, é inconsistente a alegação do grupo adversário. “Acontece que o Rui foi eleito com Homero e assumiu durante dois anos e oito meses como presidente ininterrupto. Depois, ele foi reeleito por mais três anos. Então, o senhor Rui Prado está a cinco anos e oito meses. O que ele está pretendendo é permanecer por quase 10 anos à frente da Famato. Não tem nada que explique uma permanência tão extensa", afirmou. Outro lado A reportagem tentou falar com Rui Prado, por meio de seu telefone celular. Até a edição desta matéria, as ligações não foram atendidas.